Essa é uma história daquelas que uma (quase) simples
situação muda completamente a forma de pensar e torna a vida com mais sentido.
Muito tinha lido sobre passeios e lugares a conhecer em Lima,
mas pouco encontrei sobre o povo que ali habita, seu jeito de ser, convenções ou
informações que pudessem fazer um estereótipo do que me esperaria. Algumas
poucas pessoas com quem conversei pintaram cenários negativos como pobreza,
indiferença e até má educação. Como ainda era o meu primeiro dia, a postura de “turista
neutro” – apesar de não gostar disso – me parecia ser a melhor ideia até sair
das catacumbas da Basílica e Convento de São Francisco de Assis, quando me
ocorreu a história abaixo.
Estava eu em uma ruazinha muito charmosa (Jirón Carabaya)
atrás do Palácio do Governo, tirando algumas fotos do local quando, após
guardar a câmera, três estudantes se aproximam, todas encolhidas de vergonha, e
perguntam:
- Hola, hablas español?
- Si, claro –
respondo eu. Coitadas para entender meu espanhol…
- Podemos sacar una foto con usted?
-- Pausa: nessa hora parei para analisar a situação: três
garotas entre 10 e 12 anos pedindo para tirar uma foto comigo? Parece estranho...
- Ah, quieren que yo
saque una foto de ustedes, es esto? – pergunto, parecia o mais sensato,
talvez tenha visto eu com a câmera grande e imaginado, quem sabe, que eu saiba
tirar fotos...
- Noooooo – responde a chica – nosotras queremos sacar una foto CON usted.
-- Mais uma pausa: algo muito estranho e incomum isso, mas,
como havia um policial devidamente armado
próximo do local, vamos lá...
- Si, está bien – respondo eu. Pero puedo preguntá el porque?
- Porque es hermooooooso!
Tá, me tapeia que eu gosto. Mas, enfim, vou eu tirar foto
com uma das três, com a segunda das três, com a terceira das três, com a
primeira de novo, com a quarta, com a quinta... Espera aí! É uma espécie de Gremilin essa turma, só que se multiplicam com fotos?
Enfim, no início fiquei um pouco apreensivo com a situação
de estar rodeado de crianças, mas, como o guarda via tudo isso e ria bastante,
aproveitei para tirar muitas, muitas, muitas fotos e conversar com a molecada.
Achei muito interessante como elas são encantadas por estrangeiros, principalmente
os europeus (me perguntaram se eu era francês) e com essa coisa de viajar o
mundo.
Bom, depois de abraçar muitos chicos y chicas e fazer todas as poses possíveis e imagináveis,
pedi a todos que se juntassem para uma foto. O mais interessante foi que todos
fizeram essas duas filas sem briga e sem eu precisar intervir. Tirei a câmera da
mochila, coloquei no tripé e depois de um “aaaaaaaaaahhhhhhhhhh” da turma, está
aí o resultado.
Quanto tempo fiquei ali? Uns 40 minutos, uma hora? Não sei.
Só sei que, mais que uma foto, foi o desligamento da minha mente e a abertura
do meu coração para esse país que me conquistou. Depois disso percebi como as
pessoas são amáveis e simpáticas e tudo é mais simples e com mais amor. Lição
aprendida: não use as palavras dos outros como um escudo seu, mas sim como um
chão mais firme para caminhar em busca dos seus ideais.
Bom, enfim, larguei as crianças lá, fiz sinal para o guarda “o
que posso fazer?” e ele me respondeu rindo “não há o que fazer” e vou, eu com
sorriso na cara, curtir a melhor viagem da minha vida – pelo menos até então.